Gazeta Mercantil, 23
de março de 2006
Nem sempre inovar pressupõe
investimento pesado
Adolfo Menezes Melito *
Idéias, Criatividade,
Imaginação e Inovação compõem
o universo da Economia Criativa, termo cunhado pelo
empresário de mídia e consultor inglês
John Howkins no livro “Economia Criativa, Como
Ganhar Dinheiro a partir de Idéias”. O
conceito evoluiu e representa hoje o grande potencial
de desenvolvimento no mundo. Alinham-se nessa definição
produtos, serviços e tecnologia, além
de ampla gama de processos, modelos de negócios,
sistemas educacionais.
Criatividade é definida como
a geração de idéias,
uma nova forma de encarar problemas existentes ou oportunidades
no mercado; inovação
é o processo através do qual idéias
são traduzidas em produtos, serviços e
modelos de negócios; já o “design”
é a criatividade aplicada a um fim específico.
Diferentes autores concordam que só duas em
cada dez inovações são bem sucedidas.
Tal desempenho se deve à dificuldade de prever
seu sucesso. Sob esse ângulo, o processo tende
a ser bastante oneroso. Cada empresa lida com a questão
segundo o grau de sucesso alcançado no passado
e o desempenho no presente.
Nem sempre inovar supõe investimento pesado.
No campo das idéias, a criatividade pode ser
estimulada a gerar constantemente novos espaços
de mercado, distanciando-se da competição
predatória e da batida disputa por preço
e qualidade. A parte mais difícil é a
mais importante: entender e antecipar as necessidades
de clientes ou consumidores, habilidade que é
também um processo criativo.
A criatividade floresce em ambiente aberto e não
regulado para o fluxo de idéias. Segundo Richard
Florida, autor de “The Rise of the Creative Class”,
cidades ou estados caracterizados pela diversidade,
onde prosperam atividades educacionais e culturais,
sem restrições a qualquer minoria, atraem
educadores, cientistas, artistas e outros profissionais
relacionados à Economia Criativa.
Assim deve ser nas empresas, se o objetivo for o de
permitir a livre manifestação e estimular
a criatividade aplicada aos negócios. Ambientes
hierárquicos, políticos, burocráticos,
não transparentes do ponto de vista dos critérios
de atração e promoção de
talentos, sofrem pela falta de novas idéias.
A criatividade brasileira nas artes, esportes e outras
manifestações sócio-culturais dá
a especialistas de outros países a percepção
de que o Brasil é propenso a ocupar lugar de
destaque na Economia Criativa. Na realidade, o quadro
é outro. Estudo recente dos Professores Richard
Florida e Irene Tinagli, da Carnegie Mellon University,
elenca 45 países segundo o “Índice
da Criatividade Global”. O Brasil ocupa a antepenúltima
posição, atrás de Uruguai, Polônia,
China, Argentina, Turquia, Chile, Índia e México
e à frente apenas de Peru e Romênia.
O último estudo da FIESP sobre competitividade
global põe o Brasil em 39º dentre 43 países.
Os cinco mais bem colocados são EUA, Suécia,
Suíça, Japão e Cingapura. E o “ranking”
no Índice da Criatividade Global é liderado
por Suécia, Japão, Finlândia, Estados
Unidos, Suíça, Dinamarca, Islândia,
Holanda, Noruega e Alemanha. Não é coincidência!
Há relação direta entre o grau
de educação e o índice de produtividade
de uma economia.
No caso brasileiro, é preciso recuperar aceleradamente
a distância que nos separa de outras economias
emergentes. Celebramos, por exemplo, a criação
do curso superior em “Design” pela USP,
que existe na China há 23 anos e forma hoje 10
mil alunos. A Associação Brasileira de
Software e Serviços projeta exportação
de US$ 2 bilhões até 2008, enquanto na
Índia a NASSCOM, criada em 1988, reúne
950 empresas de TI que exportam US$ 20 bilhões
ao ano.
Não resta alternativa senão investir
pesadamente em criatividade e inovação
para sobrepor esse tipo de vantagem. As empresas brasileiras
estão, aparentemente, cumprindo seu papel. Restam
políticas públicas coerentes, investimentos
em educação e infra-estrutura e corte
de gastos públicos. Irlanda, Nova Zelândia,
Canadá e Espanha obtiveram progressos expressivos
ao reduzirem seus gastos públicos entre 34% e
66%, figurando hoje nas primeiras posições
do ranking da Criatividade Global.
* Adolfo Menezes Melito, 52, economista e executivo
de empresas
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